(Agência USP) - Educar os profissionais para o contexto no qual as organizações consideram abordagens socioambientais em sua gestão é um importante passo para que uma empresa incorpore a sustentabilidade em seu cotidiano. Para isso, é necessária uma mudança de mentalidade, de consciência, em todas as suas áreas.
Essa é uma das conclusões da pesquisa de Yara Cintra, da Faculdade de Economia, Administração e Sustentabilidade (FEA) da USP, que analisou os relatórios de sustentabilidade divulgados por 59 organizações que atuam no Brasil. Segundo a pesquisadora, uma empresa, pela sua própria natureza, rigorosamente não se pode dizer sustentável, mas pode incorporar a ideia de ‘limite’, de ‘reposição’, de recomposição de recursos e riquezas que dizem respeito à sustentabilidade, no âmbito social, ambiental e econômico. “Um Controller, com todo o seu know-how de criar modelos de mensuração e controlar temas diversos, pode ser preparado para trabalhar com questões ligadas ao resultado social ou ambiental da empresa”, aponta a doutora em controladoria e contabilidade.
De acordo com a administradora, o conceito de sustentabilidade está na moda no universo empresarial. No entanto, nem sempre é traduzido em números, valores e indicadores, de maneira que possam ser inseridos de forma mais prática e “palpável” no dia a dia das empresas e dos profissionais. Dessa forma, acaba não sendo tão considerado no planejamento estratégico, na avaliação de investimentos, na elaboração de orçamentos, e em outras ferramentas de gestão e controle. O direcionamento da empresa para o que é ‘sustentável’ aparece mais frequentemente quando o que está em pauta é a ‘visão’ ou a ‘missão’ da organização, ou seja, em algo mais “abstrato”.
Baseada na teoria da “sociologia institucional”, Yara analisa como o que é divulgado por meio dos relatórios se integra e se relaciona com a prática do cotidiano empresarial. Em seu estudo, a sustentabilidade foi considerada sob as dimensões econômica, ambiental e social da abordagem conhecida como triple bottom line.
Mudança de consciência
Segundo a teoria da sociologia institucional, há duas dimensões que atuam em uma organização: a institucional e a técnica. A dimensão institucional está ligada à necessidade de a organização se legitimar diante do ambiente externo e da sociedade. Enquanto isso, a dimensão técnica trata da prática das atividades de negócios. “Muitas vezes essas dimensões estão em conflito: o que se espera do ponto de vista institucional não combina com os requerimentos técnicos do negócio. Isso gera a coexistência de duas estruturas: a formal e a informal, a real e a cerimonial, para garantir que as exigências do ambiente e da sociedade, assim como os requerimentos de negócio, sejam igualmente atendidos. E nesse sentido, surge a importância dos relatórios para o dia a dia da empres a.”
Gerar relatórios pode colaborar para que a instituição construa consciência a respeito da sustentabilidade e das formas como o conceito pode ser aplicado. “Por meio do relatório, as empresas enxergam as necessidades de mudança em seus procedimentos”, destaca Yara. Seguindo a ideia da sociologia institucional, o que é divulgado acaba influenciando o comportamento da empresa a partir de então. Dessa forma, o relatório serve para estimular a organização a aprimorar a inserção da busca pela sustentabilidade às suas práticas. “Futuramente, a sustentabilidade pode ser como a qualidade é hoje; não algo separado, mas parte integrante da gestão de negócios.”
As motivações para a divulgação do relatório de sustentabilidade são variadas. Quando uma organização divulga seu relatório, outras empresas também começam a divulgar, e uma segue o procedimento da outra. “Atualmente os relatórios de sustentabilidade são uma espécie de ‘moda’, e funcionam como uma bandeira, por meio da qual a organização pretende mostrar que ‘as coisas estão funcionando bem’”, afirma a autora.
O estudo mostra que as empresas elaboram seus relatórios por motivos que variam de “responsabilidade de prestar contas à sociedade” a motivações “cognitivo-culturais”, por meio da qual uma divulgação aparece como algo “natural”, como se a sustentabilidade já fizesse parte do negócio. “O relatório é o meio adequado de comunicar ações de sustentabilidade, e as empresas procuram adequar-se à demanda da sociedade por sustentabilidade”.
Fonte: http://www.oreporter.com/detalhes.php?id=49620
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